Como pequenas coisas podem encher de beleza a sua semana...
No
fim de semana passado, fui marcada por uma amiga no FACEBOOK para seguir um
desafio: Durante quatro dias seguidos, compartilhar em minha linha do tempo um
poema por dia.
Foi
uma tarefa deliciosa, pois me colocou em contato com um gênero literário que eu
adoro desde criança.
Inclusive,
um dos meus livros preferidos era o número 6, da coleção PARA GOSTAR DE LER
(Ed. Ática). Justamente o volume de poesias.
É
uma pena que o meu foi perdido numa mudança, mas peguei uma foto na internet
pra mostrar a vocês.
Ai ai... lembranças!! |
Voltando
à história do FACEBOOK...
O desafio real foi escolher os poemas.
Fiz
uma triagem nos livros que tenho e minha primeira ideia era escolher
meu TOP favorito e dele tirar os poemas. Acabei escolhendo dois livros pelos
quais sou A-PAI-XO-NA-DA, pois foi impossível abrir mão de qualquer um deles.
TRIBUTOS de Lenilde Freitas (Ed. Giordano) Poemas do DIA 1 e DIA 3 |
Do
livro de Lenilde escolhi os textos À
SYLVIA PLATH, porque THE BELL JAR não sai da minha cabeça, e AO AMIGO, que, em
minha opinião, é a poesia “fim de caso” mais bonita do mundo.
De
Mario Quintana os escolhidos foram, INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO, com
o qual concordo em número, gênero e grau, e ALMA ERRADA que é a história de minha
vida.
Seguem
os textos _
DIA
1
À
SYLVIA PLATH
de Lenilde Freitas
de Lenilde Freitas
Ouve
os pombos, S...
O
arrulho que eles fazem.São sempre tão delicadas
as margaridas
e imprensada entre ladrilhos
cresce a grama.
Ouve os pombos, S...
se o tédio te aprisiona
entre estas asas úmidas
que não chegam às estrelas
nem veem seu brilho.
Ouve, S... o arrulho que eles fazem.
Viver é doce. Cada dia tem seu som
cada som, sua gama.
DIA
2
de Mario Quintana
Na
mesma pedra se encontram,
Conforme
o povo traduz,Quando se nasce – uma estrela,
Quando se morre – uma cruz.
Mas quantos por aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
“Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!”
AO
AMIGO
de
Lenilde Freitas
Nem
mesmo o amor percebeu
quando
o nada nos alcançou.
De intransparências revestem-se os imprevistos
e nada é número que não se conta
ou caminhar de peixe
sem que se saiba, submerso.
Se conosco não se repartiram dízimos,
tão isolados restamos,
que numa hora só nossa
compartilhamos o pão e o vinho
no instante festivo de migalha.
Você sabendo o que eu sabia:
o que queimava não era fogo
nem era palha o que ardia.
Conhecias os segredos da vida? Nem eu.
Mas no estreito leito de gramíneas,
uma elaborada seiva nutriu a relva
do mais puro escuro jardim
em que o nada viveu.
Tão escondido, tão escondido
que nem o amor percebeu.
ALMA ERRADA
de Mario Quintana Há coisas que minha alma, já tão mortificada, não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corrida de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há... e quem é que hoje faz questão de
[virgindades...
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos
[telefones
fugir desesperada
me deixará aqui,
ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda. (Desconfio até
que minha pobre alma fora destinada ao habitante de
[outro mundo).
E ligarei o rádio a todo volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas
[do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido...
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