Palavras...

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sexta-feira, 20 de março de 2015

Não é resenha, é experiência: VIVA O POVO BRASILEIRO de João Ubaldo Ribeiro

Como agora eu tenho certeza que João Ubaldo não era um terráqueo ;)

 
De que planeta és tu?



OBSERVAÇÕES
Quando eu digo que é uma experiência, quero dizer assim para vocês: “Façam um favor a si mesmos: leiam este livro!”
 
Quando digo que João Ubaldo Ribeiro não era terráqueo, quero dizer: “Ele era fenomenal demais. Só pode ter vindo aqui pra este planeta de empréstimo...”
 


A história de VIVA O POVO BRASILEIRO é impressionante em tantos aspectos, que me sinto na obrigação de registrar que, nenhuma resenha, nenhum sumário poderá suprir um milésimo de sua função, ou seja, não será capaz de representar o que o leitor irá vivenciar durante a leitura desta obra.

Em outras palavras, para um livro como este, as resenhas devem ter a função maior de criar a vontade de enveredar na leitura. E é isto que tentarei fazer aqui.
 
Serei breve, mas vou começar, literalmente, do começo. Ou melhor, de um pouco antes do começo. Vou mostrar para vocês a epígrafe.
 
 "O segredo da Verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias."

 
E já entrei no livro com um monte de questionamentos em minha cabeça:
 
  • Fatos e História estão sempre relacionados?
  • Os fatos sempre entram como parte da História?
  • História consegue expor, satisfatoriamente, todos os fatos ocorridos?
 
A epígrafe mais funcional já escrita. Ela me colocou em um “humor” direcionado para todo o tom e o mote dos eventos contados.

E digo para vocês uma coisa: terminei o livro com todas as perguntas devidamente respondidas!
 
Ponto de Leitura, 789 páginas.
 
VIVA O POVO BRASILEIRO pode ser descrito, de uma forma simplista, assim: uma olhada em 400 anos da História do Brasil em pouco menos de 800 páginas.
 
É basicamente isto? É sim, é basicamente isto. Mas João Ubaldo era "João Ubaldo", então o negócio todo vai para um nível bem lá no alto!
 
"Coisa de gênio, meu filho...!"
 
Contada em momentos variados do século 17 até o século 20, a maior parte da trama acontece na Bahia, mas outros lugares também aparecem como cenários mais ou menos eventuais. Há VÁRIOS núcleos e dezenas de personagens. Algumas obviamente APARECEM mais e por isto mesmo são mais desenvolvidas, porém, me atrevo a dizer que TODAS são extremamente importantes para a construção deste universo.
 
Em relação às personagens, ainda, o que me chamou muito a atenção foi o modo nada uniforme em criá-las e apresentá-las para o leitor.
 
Explico:
 
Algumas personalidade  ficam “explícitas” para nós em um primeiro parágrafo. Cinco, seis linhas e POW!, lá está a informação e a imagem fundamental para o entendimento do caráter dela (é o que acontece quando somos apresentados a PERILO AMBRÓSIO GÓES FARINHA).
 
Em outros casos, passamos páginas e páginas, inúmeras situações nos são apresentadas, até dá aquele clic, e a gente pensar: “Ah, tá! Agora entendi...!” (No meu caso isto aconteceu com LELÉU. Demorei até sacar qual era a dele e de que matéria ele era feito.)
 
O sarcasmo e a ironia são outros pontos marcantes. Dois traços da escrita de João Ubaldo que costuram todo enredo, mas de uma forma muito fluente e nada forçada. Com isto, mesmo estando presentes em momentos dramáticos da história, eles (o Sr. Sarcasmo e a Dona Ironia) não abafam nem escondem o drama e a gravidade de inúmeras situações  mostradas.
 
"Embravecidos e correndo sobre a imensa coroa de areia firme com uma hoste de demônios, os portugueses praticaram tamanhas atrocidades que livros de versos foram escritos sobre elas e o ódio dos muitos ofendidos ainda hoje não se aplacou nos corações de seus descendentes. A artilharia que ficou na praia e na fortaleza foi aviltada, a pólvora ensolvada, as peças de ferro cravadas e postas a rolar pelo capim e pelo barro. A igreja de São Lourenço foi invadida, arrancado o manto do Nosso Senhor dos Martírios, destruído o oratório de Vera Cruz. E tantos sacrilégios se cometeram que, já não estivesse Deus do lado brasileiro por justiça e vocação, para ele se bandearia agora, diante da algozaria do inimigo."
 
 
Digo que este é, também, um livro de lições! Muitas e muitas lições de como encarar a vida, como lutar por ela e como aproveitá-la. Como diferenciar o certo do torto, o justo do injusto.
 

"Mas este conselho lhe dava: que não fosse boba, que não confiasse, não confidenciasse e não desistisse com facilidade; que não fosse mentirosa, mas também não imprudente; que não quisesse lutar sempre do mesmo jeito, mas que tivesse para cada luta um jeito próprio, dependendo sempre das circunstâncias; e que gostasse dele, porque ele gostava tanto dela que o coração doía e, se não tinha sido melhor avô, fora porque não soubera, mas tudo o que sabia e procurara aprender tinha feito para ela."
   
Canibalismo, escravidão, maldade, traição, mentira, corrupção. Justiça poética, amor, solidariedade, força, luta por um ideal, verdade. VIVA O POVO BRASILEIRO tem de tudo, assim como nossa História, por mais nebulosa que ela seja.
 
Um livro necessário e fundamental para todos nós, filhos deste solo!
 
 
Leiam João...!
 
 

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