Palavras...

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quarta-feira, 10 de junho de 2015

Romances de Machado em ordem cronológica #1: RESSURREIÇÃO e A MÃO E A LUVA.

Como eu me senti revisitando um velho amigo...



  Comecei meu projeto de reler os romances de Machado de Assis em ordem cronológica.

  Para quem não sabe do que estou falando, há um artigo chamado O VELHO ÍDOLO DE UM JEITO NOVO que eu escrevi no começo do ano. Lá eu explico direitinho minha ideia.

  Final do mês passado eu li RESSURREIÇÃO (1872) e ontem eu terminei A MÃO E A LUVA (1874). Então, enquanto as impressões ainda estão fresquinhas em minha cabeça, vamos lá!


  
  Quero começar declarando que, quanto mais eu o releio, mais eu me impressiono e mais (re)descubro coisas dentro de seus textos.
  
  A sensação foi ainda mais forte durante a leitura de A MÃO E A LUVA: Guiomar, a personagem principal do livro, foi um dos meus objetos de estudo para a monografia de minha pós-graduação em Literatura Brasileira. Eu a analisei profundamente, repetidamente, exaustivamente... e, ainda assim, desta vez, encontrei um monte de coisas que passaram batidas naquele momento.
  
  Os dois livros foram escritos na época em que o movimento literário "oficial" era o romantismo. Contudo, não se engane: estas duas tramas têm pouca coisa água com açúcar e, em muitos momentos, Machado deixa escapar umas alfinetadas violentas nos personagens mais chegados ao mi-mi-mi.


Editora Globo, 118 páginas.

  O primeiro romance conta a história de Félix, um médico que, já depois dos trinta anos, recebe uma herança e é elevado socialmente. Ele conhece Lívia, uma viúva por quem se sente levemente atraído. 

  Félix é aquele tipo de cara que não se apega a ninguém, não acredita no amor e só tem casos passageiros. Porém, a doçura da moça  acaba por desarmá-lo, fazendo-o assumir um noivado e o compromisso de casamento. Tudo muito fofo, não fosse o fato de Félix aterrorizá-la com seu ciúme e desconfiança. 

"Não se trata aqui de um caráter inteiriço nem de um espírito lógico e igual a si mesmo; trata-se de um homem complexo, incoerente e caprichoso, em quem se reuniam opostos elementos, qualidades exclusivas, e defeitos inconciliáveis." (p.2) 

  E aí, amor é capaz de superar tudo? Machado opina sobre isto.

... 



Editora Globo, 107 páginas


  Guiomar é minha personagem feminina preferida na obra de Machado de Assis

  Por uma jogada do destino, esta é outra figura machadiana que também tem a sorte de melhorar de vida. Mas ao contrário de Félix, que é dono da própria fortuna, a situação de Guiomar é muito mais frágil e sujeita à vontade dos outros. 

  Numa época em que uma mulher, nascida pobre, só tinha chance de enriquecer pelo casamento, a heroína deste livro coloca o amor como um detalhe bonito, mas não fundamental para se ligar a um homem. 

"Guiomar amava deveras. Mas até que ponto era involuntário aquele sentimento? Era-o até o ponto de não lhes desbotar à nossa heroína a castidade do coração, de lhe não diminuirmos a força de suas faculdades afetivas. Até aí só; daí por diante entrava a fria eleição do espírito." (p.82)     
  Uma alpinista social com escrúpulos.

...
  Ficam as recomendações destas duas tramas que, se não podem ser consideradas obras magistrais, podem, certamente, nos mostrar onde começou a se moldar a genialidade do "Bruxo".

Um beijo e ótimas leituras!

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