"Às vezes, pensava no dinheiro, e recomendava ao marido que se contivesse, que salvasse alguma coisa para pôr na Caixa; ele dizia que sim, mas contava mal, e o dinheiro ia ardendo..."
O conto TERPSÍCORE veio a público em 1886, no Suplemento Literário da GAZETA, mas só foi publicado em livro no ano de 1996, depois de ter sido resgatado - do meio de várias crônicas menores - pelo escritor Paraense Haroldo Maranhão.
Terpsícore é a musa grega da dança e da música, que, apesar de só aparecer no título da história, rege, implacavelmente, o comportamento dos protagonistas, Porfírio e Glória.
TERPSÍCORE, musa da música e da dança - óleo sobre tela, Jean-Marc Nattier (1739) |
O conto começa com a esposa acordando e vendo o marido sentado na cama, o olhar perdido em preocupações. Na sequencia, somos informados da penúria em que o casal se encontra. Contas atrasadas, ameaça de despejo, o dinheiro que mal dá para a alimentação.
"Diabo! tanta despesa! Conta em toda a parte! é a venda! é a padaria! é o diabo que os carregue. Não posso mais. Gasto todo santo dia manejando a ferramenta, e o dinheiro nunca chega. Não posso, Glória, não posso mais..."
Todavia, os sentimentos de empatia e pena que, por ventura, se ensaiam no leitor, são rapidamente suprimidos, quando Porfírio relembra do comportamento (desde o momento em que decidiu cortejar Glória, até a festa de casamento) que o conduziu para uma vida de dificuldades e privações.
"Antes, porém, de casar, logo depois de começar o namoro, Porfírio tratou de preencher uma lacuna da sua educação; tirou dez mil-réis mensais à féria do ofício, entrou para um curso de dança, onde aprendeu a valsa, a mazurca, a polca e a quadrilha francesa."
"Que poupar despesas? Mas se num dia grande como esse não se gastava alguma coisa, quando é que se havia de gastar?"
"E assim se cumpriu tudo; foram bodas de estrondo, muitos carros, baile até da manhã. Nenhum convidado queria acabar de sair."
Endividado até o pescoço, sem economias guardadas e seis meses de aluguel atrasado, o rapaz resolve apostar em dois bilhetes de loteria, na esperança de ganhar e, a partir de então, levar uma vida mais previdente. O desfecho da história, entretanto, mostra como Machado botava pouca fé na capacidade das pessoas aprenderem com os próprios erros.
De uma forma muito bem humorada e irônica, ele deixa registrada a seguinte lição: quem nasceu para se comportar como cigarra, provavelmente nunca agirá como formiga.
-Ai, ai Machado... você é demais!!
Em 50 Contos de Machado de Assis, página 401. |
Companhia das Letra, 487 páginas |
Um beijo e ótimas leitura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário