"...sempre tão mais fácil amar."
"Uma escritora decidida a desvendar as profundezas da alma." |
Não sou ,nem de longe, íntima da obra de Clarice Lispector.
Numa contagem rápida, posso dizer que li meia dúzia de contos e um romance (Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres) do qual nem gostei tanto assim na época.
São dela, porém, dois dos contos mais bonitos que já li em toda minha vida: FELICIDADE CLANDESTINA e RESTOS DE CARNAVAL.
Como graduada em Letras e Pós-graduada em Literatura Brasileira, sempre me senti um pouco culpada por nunca ter me envolvido mais profundamente com a obra da autora.
Quando o conto O BÚFALO foi escolhido para o mês de Agosto no Clube do Livro achei que ia ficar boiando no debate e olhando para as meninas - Ane e Marta sacam MUUUITO de C. Lispector - com cara de paisagem.
Na verdade boiei um pouco na primeira leitura, mas consegui captar a ideia e gostar do texto.
E minhas colegas de Clube me conduziram com tanta paciência e generosidade pelas trilhas da história que nem precisei fazer cara de paisagem.
Ed. Rocco, 135 páginas |
"Mas era primavera. Até o leão lambeu a testa glabra da leoa. Os dois animais louros. A mulher desviou os olhos da jaula, onde só o cheiro quente lembrava a carnificina que ela viera buscar no Jardim Zoológico. Depois o leão passeou enjubado e tranquilo, e a leoa lentamente reconstituiu sobre as patas estendidas a cabeça de uma esfinge. "Mas isso é amor, é amor de novo", revoltou-se a mulher tentando encontrar-se com o próprio ódio mas era primavera e dois leões se tinham amado. Com o punho no bolso dos casaco, olhou em torno de si, rodeada pelas jaulas, enjauladas pelas jaulas fechadas. Continuou a andar. Os olhos estava tão concentrados na procura que sua vista às vezes se escurecia num sono, então ela se refazia como n a frescura de uma cova."
O BÚFALO é o último conto do livro LAÇOS DE FAMÍLIA.
Uma mulher peregrina dentro de um Zoológico em busca de impulsos de ódio.
Ela está triste, desiludida, frustrada por não ter o amor do homem desejado. Se sente fraca, pois faz dois dias que não come, e, acima de tudo, tem muita vontade de odiar, de explodir, de gritar para o mundo suas frustrações.
Indo de jaula em jaula ela empreende sua busca pelo sentimento que acha ser sua única saída. Entretanto, parece incapaz de "adoecer", de conseguir se contaminar com o tal ódio.
É um texto estranho, perturbador e agoniado. Clarice devia está passando por uma bruta turbulência emocional quando o escreveu.
Fiquei pensando em como é difícil ser o tipo de pessoa que engole sapos calada e que se recente disto. Ser uma pessoa que precisa se proteger de afrontas e não consegue.
Clarice foi, realmente, uma sensibilíssima escritora, que conseguiu expressar, de modo pungente , os conflitos de sua alma.
Um beijo e ótimas leituras.
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