Palavras...

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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Eu recomendo: O ILUMINADO de Stephen King

"Jack esfregou a mão na boca brutamente(sic.) e seguiu Watson até a sala da caldeira. Estava úmido ali, mas era algo além da umidade que trazia aquele suor viscoso e doentio a sua testa, barriga e pernas. A lembrança fazia aquilo, era uma coisa total que fazia aquela noite de dois anos passados parecer como se tivesse acontecido há duas horas. Não havia defasagem de tempo. Trouxe de volta a vergonha e repulsa, a sensação de não ter valor algum, e aquele sentimento sempre ressucitava(sic.)  a vontade de beber, e a vontade de beber trazia um desespero ainda mais sombrio..."(p.31)




  Jack Torrance é, sem dúvida, uma das personagens mais detestáveis que eu tive a "honra" de conhecer nesta minha vida de leitora. Contudo, antes que os ardorosos fans de King queiram tirar meu couro, vou deixar claro que gostei do livro e entendi porque o autor é tão cultuado mundo à fora.

  Este foi meu primeiro romance de Stephen King

  Ano passado eu havia lido SOBRE A ESCRITA (artigo aqui) e ficado encantada. Como expliquei naquela ocasião, eu tenho MUITO MEDO de histórias de terror/horror/suspense, e sempre passei longe de títulos do gênero. Só que ele me impressionou verdadeiramente, então decidi criar coragem para dar uma chace a outro texto seu. 

Escolhi O ILUMINADO por dois motivos:

  • Muita gente fala que esta é uma das melhores histórias dele;
  • Eu já havia assistido o filme e achei que não ficaria tão perturba por saber, mais ou menos (o filme é diferente do livro), como a história iria se desenrolar.

PONTO DE LEITURA, 582 páginas.

"A luta assustadora entre dois mundos. Um menino e a ânsia assassina de poderosas forças malignas. Uma família refém do mal. Nesta guerra sem testemunhas, vencerá o mais forte." 

  O livro conta a história de uma família que vai passar os meses de inverno tomando conta de um hotel no Colorado. Durante este período o pai, a mãe e o filho de cinco anos, ficarão sozinhos no local. O problema é que o resort é localizado no alto de uma montanha, ficando completamente inacessível por conta da neve pesada que cai em toda a área e tem uma energia pesadíssima (pra dizer o mínimo). Danny, o garotinho sensitivo a quem o título faz referência, vai captar esta carga energética tal qual um impotente para-raios. 

  É terrivelmente angustiante acompanhar o sofrimento do menino, e eu, que tenho um problema sério com tramas que mostram crianças em situações desfavoráveis, acompanhei os horrores vividos por Danny com o coração na boca do estômago, e cheguei à conclusão de que, em O ILUMINADO, o grande vilão (ganhado de lavada de toda a cambada de fantasmas do Hotel Overlook) é o pai dele; Jack Torrance.

  Deixo bem claro que esta é a MINHA leitura do livro, este é o modo como EU organizei meus pontos de vistas dentro da estrutura narrativa do texto: Danny, o herói. Jack, o vilão. O hotel é sim, um tremendo antagonista, mas o pai é o grande pior (pegando emprestada uma expressão de Guimarães Rosa).

  O "culpado" por toda esta repugnância  é o próprio King, que faz um serviço soberbo na exposição da persona de Jack. Não é uma revelação imediata, nem feita de rompante, e sim um trabalho de ir deixando pistas ao longo da narrativa que nos fazem compreender que estamos diante  não apenas de um homem fraco e marcado pelas agruras da vida, mas também de alguém com um gênio muito muito ruim, um tanto sádico, instável e dissimulado. 

  Uma personagem odiosa, porém riquíssima. Era com a vontade "sanguinária" de ver Jack se dar mal, que eu lia linha após linha da história. 

  -Sempre durante o dia - que fique registrado!

  Uma trama muito bem organizada e perturbadora. Não sei quando (ou se) terei coragem de ler outra obra de Stephen King, mas fico muito satisfeita de ter encarado O ILUMINADO; sem dúvida uma leitura inesquecível.

Um beijo e ótimas leituras.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Lidos: FEVEREIRO de 2016

Fevereiro; o mês em que eu ZZZZZZZZZZZ...




Eu estou super desorganizada com meus registros de leituras. Ao ponto de até esquecer a atualização do status dos livros no SKOOB. 

Isto não é nada bom!

Sou muito dispersa e se perco o foco, já era. É um custo voltar aos trilhos.

Acrescentem a isto alguns imprevisto pelo meio do caminho:
  • Eu embernei durante o período de Carnaval ;)
  • E logo na sequência tive uma virose, e adivinhem? Dormi mais ainda...
O resultado de tantas horas de "inconsciência" (hehehe) foi pouquíssima leitura. 

Ainda assim, foram três livros e um artigo. 

Vou listá-los aqui em baixo e deixa o link para o vídeo de conclusão que postei no FACEBOOK.

- TRÊS ANOS de Anton P. Tchekhov que está na minha lista do Desafio Livrada! 2016, na categoria UMA NOVELA. Já tem um artigo sobre ele AQUI.

- A VIDA PRIVADA DAS ÁRVORES de Alejandro Zambra

- O DIÁRIO DE UM BANANA vol.2 - RODRICK É O CARA de Jeff Kinney, também no Livrada! (UM LIVRO BOBO).

- SEJAMOS TODOS FEMINISTAS de Chimamanda Ngozi Adiche.

Explico um pouquinho melhor aqui no facebook.com/salvapelolivro

Um beijos e ótimas leituras.

quinta-feira, 31 de março de 2016

Relato de uma experiência: GUERRA E PAZ de Liev Tolstói

"A vida dos povos não cabe na vida de algumas pessoas, pois não foi encontrada a relação entre essas pessoas e os povos.A teoria de que tal relação está baseada na transferência da totalidade das vontades para um personagem histórico é uma hipótese não confirmada pela experiência histórica." (GUERRA E PAZ, p. 2438)




Não tenho competência técnica para fazer uma análise histórica, social ou política deste livro; tampouco sinto vontade de falar de GUERRA E PAZ sobre tais vieses.

É claro que estes aspectos são muito importantes e relevantes durante toda a narrativa, e o fato de Tolstoi contextualizar o drama levando em conta cada um deles nos ajuda a compreender a trama de modo mais profundo e, mais parcial também - eu diria. 

Afinal de contas, este é o relato de uma guerra (e de frágeis períodos de paz) feito por um Russo, apaixonado e devotado à sua pátria. 

Foi a paixão e a genialidade do texto de Liev Tolstoi que me mantiveram virando página após página, e querendo mais e mais.

Mas, este artigo tem por objetivo principal dizer que esta é uma leitura possível e que que você merece experimentar.


COSACNAIFY, 2.520 páginas
"O dinamismo com que a narrativa de Tolstói muda de perspectiva, abandonado os pressupostos de uma visão de mundo para adotar outros, com uma simples mudança de parágrafos, constitui um dos pontos fortes de sua técnica.Assim o leitor passa do soldado russo para o francês, do camponês para o senhor de terras, da filha para o pai, e até animais são envolvidos nesse deslocamento incessante." (p.17) 

Vamos lá. 

Os eventos fundamentais da trama acontecem de 1805 até 1812. 

(Todavia, o longo epílogo - dividido em 2 partes - tem sua primeira metade usada para mostrar ao leitor como estão vivendo os personagens centrais alguns anos depois de 1812.)

Enfim... 

Tolstoi conta a história da Rússia e arredores durante os turbulentos anos das invasões Napoleônicas. 

E se, por um lado, ele dispõe de um elenco com personagens bons, corretos e nobres, por outro não economiza ao expor o lado medonho de um conflito daquela dimensão. Todas mazelas, durezas, crueldades e mesquinharias são apresentadas sem photoshop.

GUERRA E PAZ tem todos seus elementos literários muito bem burilados e trabalhados à perfeição. 

O tempo, o espaço, os focos narrativos, o enredo, as pessoas do romance, estão onde estão por motivos fundamentados, e nenhuma cena acontece por acaso.

Os personagens e suas histórias são apresentados sem pressa e à medida que o livro avança, eles vão se conectando até formar o painel geral da obra.

Um livro lindíssimo, duríssimo, muito filosófico, e extremamente tocante. 

Tolstói faz isso mesmo: toca o coração do leitor e constrói um relação de forte empatia entre quem ler e aquilo que está sendo contado. 

As coisas iam acontecendo e eu:

- Ai-Meu-Deus! E agora? O que será? Como assim?

Muitas vezes, tarde da noite, caindo de sono e sem querer largar o livro.

Então, se você tiver a oportunidade, vivencie GUERRA E PAZ. Não se acanhe pelo tamanho do livro. Tem tanta trilogia "ok" por aí, com muito mais páginas ( e que a gente encara), mas que não nos proporcionam a milésima parte da experiência de ler um texto com este grau de genialidade.

Leia. Ou pelo menos tente.

E tenha certeza que terá em mãos uma obra prima: a MASTERPIECE!

Um beijo e ótimas leituras.

terça-feira, 8 de março de 2016

TRÊS ANOS de Tchekhov

"E, olhando para a esposa, que não o amava, ele pensava desalentado: 'Por que isso foi acontecer?'"


A vida cotidiana sem filtros...

Passando rapidamente, para atualizar meus registros de leituras do Desafio Livrada! 2016, e falar da terceira meta concluída: Uma novela.

Minha "primeira vez" com Tchekhov foi no ano passado quando li a coletânea A DAMA DO CACHORRINHO E OUTROS CONTOS

Fiquei caidinha da Silva... (LINK)

Agora, com a leitura de TRÊS ANOS, ao mesmo tempo em que confirmei a habilidade dele para apresentar personagens e situações, me deparei com uma melancolia, que, se havia em algum daqueles outros textos, não apareceu (para mim) de modo tão intenso quanto aqui.

Melancólico...

A trama é simples. 

Láptiev se apaixona por Iúlia, mas não é correspondido. Mesmo assim, a moça acaba casando com ele. 

Insatisfação garantida! 

E o peso do equívoco - dos dois - vai ficando cada vez mais difícil de ser carregado.


Três Anos
Editora 34, 154 páginas

 "Em TRÊS ANOS, de 1895, Tchekhov já havia deixado de lado o humor presente em seus primeiros textos e adotado um tom bem mais melancólico ao abordar o homem e a sociedade de seu tempo. E justamente entrando no território dos dramas da alma humana, acompanhando os dilemas vividos por Aleksei Láptiev - filho de um próspero comerciante moscovita, apaixonado por uma mulher que não o ama -, Tchekhov apresenta ao leitor a mais importante pergunta sem resposta lançada nesta novela: como definir o amor?"


É um livro cheio de silêncios bem incômodos, mas que grita a genialidade de seu autor. 


Um beijo e ótimas leituras.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Querido Umberto Eco...






Recife: 20 de Fevereiro de 2016

Querido Umberto Eco,

Quando eu li O NOME DA ROSA alguma coisa explodiu dentro de mim. Explodiu mesmo! O livro não saía da minha cabeça.

Eu ficava pensando em Guilherme o tempo todo e queria ser Adso - só para ficar junto dele. 

Foi uma paixão que se intensificava a cada página. 

Até hoje, vinte e tantos anos depois da primeira leitura, pensar em Guilherme faz meu coração se aquecer, e volto a sentir as faíscas daquela explosão.

Devo ao seu livro minha transformação como leitora, pois foi a partir dele que tomei gosto por temas mais profundos e foi com ele que, pela primeira vez, senti a necessidade de refletir e organizar minhas ideias sobre aquilo que estava lendo. Seu livro, na verdade, me ensinou o que é LER. 

Então, o que eu quero dizer é: 

Muito, muito obrigada! Não sei quantos leitores você tocou, formou, transformou - acredito que muitos - mas para mim você foi um re-alfabetizador (se não exite isso, fica aqui inventado). 

Você, através de O NOME DA ROSA, me fez compreender que ler, além de divertido e prazeroso, é também necessário para que eu possa entender quem sou, em que mundo estou e que responsabilidades tenho perante a vida que me foi concedida.  

Mais uma vez, obrigada Umberto. 

Era isso que eu queria lhe dizer... 

Arrivederci!

Carla Monteiro